Por Cynthia

 

Promover saúde e bem-estar ao gatinho é certamente o objetivo comum entre os proprietários de felinos e médicos veterinários. Especialmente quando falamos de medicina de prevenção, este cuidado pode permitir que seu companheiro tenha uma vida mais longa e confortável. No check-up de rotina orientações sobre temas gerais, exames físicos completos e exames complementares proporcionam a você, ao seu veterinário e principalmente ao seu companheiro a possibilidade de uma estratégia adequada para a manutenção da saúde de seu companheiro reduzindo as despesas de longo prazo, associadas aos cuidados da saúde de um gato. Além do que, Visitas regulares ao veterinário permitem um acompanhamento mais eficaz quanto às mudanças comportamentais ou fisiológicas do seu gatinho, permitindo diagnóstico precoce de enfermidades e com isso maior possibilidade de sucesso no tratamento, caso seja necessário.

A atenção à saúde dos felinos pode ser muitas vezes subestimada, pois os felinos são capazes de esconder muitos sinais clínicos, de diversas enfermidades, aparentando um status de “autossuficiência” para sua saúde geral. Assim, a fim de disponibilizar protocolos de investigação e monitoramento da saúde dos felinos, as associações International Cat Care, International Society of Feline Medicine (ISMF) e American Association of Feline Practitioners, criaram diretrizes para orientação sobre as necessidades para cada estágio da vida dos gatos.

 

 Em que fase está meu gato?

As fases da vida do gato não estão bem definidas, muitas vezes porque o metabolismo e a taxa de envelhecimento são individuais e, portanto, diferentes. Porém, a determinação de cada etapa da existência do felino ajuda a concentrar a atenção nas mudanças físicas e comportamentais que ocorrem em diferentes estágios, além de auxiliar o veterinário na investigação e reconhecimento de possíveis sinais clínicos de diversas patologias.

Os estágios da vida do felino estão divididos em seis fases. A primeira, do filhote (do nascimento aos seis meses de idade; a segunda, do gato jovem (dos 7 meses aos 2 anos de idade); a terceira, do gato adulto (dos 3 aos 6 anos de idade); a quarta, do gato maduro (dos 7 aos 10 anos de idade); a quinta, do gato sênior (dos 11 aos 14 anos de idade) e a sexta, do gato  geriátrico (acima dos 15 anos).

Para manter a saúde do felino, é bom lembrar que o veterinário orienta e ajuda o dono do paciente a compreender a importância do cuidado preventivo e regular para animais de todas as idades. Recebendo esta mensagem de que a saúde do pet pode (e deve) ser monitorada ao longo da vida, é crucial começar a zelar pelo animal, levando o gatinho filhote pela primeira vez ao veterinário e reforçando com visitas posteriores. A detecção precoce de alterações clínicas e comportamentais pode melhorar o manejo de muitas doenças e, consequentemente, a qualidade de vida do seu companheiro.

 

 

Com que frequência devo levá-lo ao veterinário?

Associações sobre cuidados com felinos mundialmente reconhecidas recomendam que o gato realize checkup anualmente. Uma ressalva na determinação desta frequência, contudo, é que a incidência de muitas doenças podem aumentar à medida que os gatos envelhecem. Assim, exames mais frequentes podem ser recomendados para os gatos maduros e geriatras, bem como para os bichanos que possuem condições médicas e comportamentais especiais.

Entretanto, baseadas no fato de que alterações no estado de saúde podem ocorrer em um curto período de tempo e de que os gatos enfermos geralmente não mostram sinais de doença, algumas associações de medicina felina recomendam avaliações semestrais, que incluem consultas e exames complementares para todos os estágios da vida do felino. Isso possibilita a detecção precoce de problemas de saúde, mudanças no peso corporal, doenças dentárias, entre outras alterações, resultando em uma intervenção também precoce.

Além disso, as visitas semestrais ao veterinário permitem uma comunicação mais frequente entre tutor e clínico sobre mudanças comportamentais e orientação quanto aos cuidados de saúde preventivos. Esta ação permite que o animal obtenha mais qualidade de vida, bem como permite reduzir as despesas de longo prazo, associadas aos cuidados da saúde de um gato.

O histórico do seu gato deve ser acompanhado pelo veterinário sob forma de questionamentos abertos e comparado aos últimos dados obtidos. Desta maneira, a evolução da condição de saúde de seu companheiro ao longo de sua vida será sempre analisada. O exame físico deve fazer parte da consulta, dando-se atenção especial a padrões de respiração, marcha, postura, força, coordenação e visão.

Avaliação dos parâmetros fisiológicos e dos exames complementares (atuais e anteriores), peso corporal, índice de condição corporal e sinais vitais são importantes ferramentas para acompanhamento da saúde do seu gato. Há também outras especificidades, dependendo das enfermidades já estabelecidas, que serão avaliadas conforme a necessidade de cada uma (veja o quadro abaixo).

O controle de peso, a nutrição e as orientações sobre a dieta adequada para as fase da vida do pet devem ser discutidos em todas as consultas, pois a carência de energia e de nutrientes varia de acordo com cada estágio, com o status de esterilização e com a atividade de seu animal. Para evitar problemas como diabetes, obesidade ou perda excessiva de massa muscular, as recomendações gerais de alimentação, ingestão de água, diversidade e quantidade de alimentos devem ser ajustadas a fim de se manter o peso e escore corporal desejado (avaliação subjetiva e semi quantitativa da composição corporal), fornecendo um ponto de partida para a boa saúde e qualidade de vida de seu gato.

 

 

Quais são os exames necessários para cada fase da vida?

Além da consulta e orientações semestrais, que são indicadas para todas as fases da vida do felino, alguns exames complementares são indicados nas diretrizes. São eles:

 

Gato filhote:

  • Exames de fezes, de 2 a 4 vezes no primeiro ano de vida, são necessários para pesquisa de parasitas e estabelecimento de protocolo de vermifugação profilático /terapêutico.
  • Exame de pesquisa de retrovírus (FIV/FELV)*.
  • Exames de sangue para esta fase incluem a contagem de células vermelhas (envolvidas no transporte de gases sanguíneos), células brancas (de defesa do organismo), plaquetas (envolvidas na coagulação sanguínea) e bioquímica sanguínea (enzimas hepáticas, eletrólitos sanguíneos, proteínas plasmáticas, glicemia e função renal), sempre que o animal não obtenha ganho de peso esperado, que apresente mudança no comportamento, perda de apetite,  prostração e apatia, vômitos ou diarreia; ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exames de urina: urinálise*, caso o animal apresente alterações em avaliação feita pelo veterinário, e este julgue necessário.

 

Gato jovem – dos 7 meses aos 2 anos:

  • Exames de fezes, de 1 a 4 vezes no primeiro ano de vida, são necessários para pesquisa de parasitas e estabelecimento de protocolo de vermifugação profilático / terapêutico.
  • Exame de pesquisa de retrovírus (FIV/FELV).
  • Exames de sangue para esta fase incluem a contagem de células vermelhas (envolvidas no transporte de gases sanguíneos), células brancas (de defesa do organismo), plaquetas (envolvidas na coagulação sanguínea) e bioquímica sanguínea (enzimas hepáticas, eletrólitos sanguíneos, proteínas plasmáticas, glicemia e função renal), sempre que o animal não obtenha ganho de peso esperado, que apresente mudança no comportamento, perda de apetite,  prostração e apatia, vômitos ou diarreia; ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exames de urina: urinálise, sempre que o animal apresente alterações de micção e ingestão de água, ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.

 

Gato adulto – de 3 a 6 anos:

  • Exames de fezes, de 1 a 2 vezes no primeiro ano de vida, são necessários para pesquisa de parasitas e estabelecimento de protocolo de vermifugação profilático /terapêutico.
  • Exame de pesquisa de retrovírus (FIV/FELV) caso o animal apresente mudança comportamento ou de habito alimentar, prostração e apatia, vômitos ou diarreia; ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exames de sangue para esta fase incluem a contagem de células vermelhas (envolvidas no transporte de gases sanguíneos), células brancas (de defesa do organismo); plaquetas (envolvidas na coagulação sanguínea); e bioquímica sanguínea (enzimas hepáticas, eletrólitos sanguíneos, proteínas plasmáticas, glicemia e função renal), sempre que o animal apresente mudança no comportamento ou de hábito alimentar, prostração e apatia, vômitos ou diarreia; ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exames de urina: urinálise, sempre que o animal apresente alterações de micção e ingestão de água, ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exame de controle de pressão arterial

 

Gato maduro – dos 7 aos 10 anos de idade:

  • Exames de fezes, de 1 a 2 vezes no primeiro ano de vida, são necessários para pesquisa de parasitas e estabelecimento de protocolo de vermifugação profilático/terapêutico.
  • Exame de pesquisa de retrovírus (FIV/FELV) caso o animal apresente mudança comportamento ou de habito alimentar, prostração e apatia, vômitos ou diarreia, perda de peso; ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exames de sangue para esta fase incluem a contagem de células vermelhas (envolvidas no transporte de gases sanguíneos), células brancas (de defesa do organismo); plaquetas (envolvidas na coagulação sanguínea); e bioquímica sanguínea (enzimas hepáticas, eletrólitos sanguíneos, proteínas plasmáticas, glicemia e função renal, SDMA*).
  • Exames de urina: urinálise, UPC*.
  • Exame de controle de pressão arterial

 

  • Exame de controle de hormônio da glândula tireoide, caso o animal apresente agitação, inquietude, mudança de habito alimentar, vômitos ou diarreia, perda de peso (emagrecimento); ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.

 

Gato sênior – de 11 a 14 anos/ Gato geriátrico – acima de 15 anos:

  • Exames de fezes, de 1 a 2 vezes no primeiro ano de vida, são necessários para pesquisa de parasitas e estabelecimento de protocolo de vermifugação profilático /terapêutico.
  • Exame de pesquisa de retrovírus (FIV/FELV), caso o animal apresente mudança comportamento ou de habito alimentar, prostração e apatia, vômitos ou diarreia, perda de peso; ou se o animal apresentar alterações em avaliação feita pelo veterinário.
  • Exames de sangue para esta fase incluem a contagem de células vermelhas (envolvidas no transporte de gases sanguíneos), células brancas (de defesa do organismo); plaquetas (envolvidas na coagulação sanguínea); e bioquímica sanguínea (enzimas hepáticas, eletrólitos sanguíneos, proteínas plasmáticas, glicemia e função renal, SDMA*).
  • Exames de urina: urinálise, UPC*.
  • Exame de controle de pressão arterial.
  • Exame de controle de hormônio da glândula tireoide.

 

*Exame de pesquisa de retrovírus (FIV/FELV). Retrovírus são microrganismos que acometem os felinos especificamente, causando as enfermidades Imunodeficiência Felina e Leucemia Felina, respectivamente. Podem ser detectados através de exame de sangue de sorologia ou PCR (Reação em cadeia da Polimerase)

 

*Urinálise (exame de Urina) é exame que avalia fisicamente a urina (cor, odor e aspecto) e revela alterações como a presença de sangue, leucócitos, cilindros, células epiteliais, bactérias, parasitas, muco, espermatozoides, cristais, entre outros elementos.

 

*UPC (Relação proteína /creatinina Urinária) é exame que identifica e quantifica a proteinúria (quantidade de proteína na urina), auxiliando o estadiamento da doença renal em felinos, fundamental para orientar as decisões clínicas e monitorar a resposta do paciente à terapia.

 

*SDMA (Dimetilarginina Simétrica) é um biomarcador renal específico da função renal e indicador da função renal, auxiliando precocemente no estadiamento da doença renal em felinos, possibilitando as recomendações de tratamento eficazes para doença renal em evolução.

 

Há ainda outros exames complementares que auxiliam o fechamento de diagnóstico de muitas enfermidades, como exames de imagens, cardiológicos, neurológicos, dermatológicos, entre outros, os quais devem ser solicitados conforme a necessidade do quadro clínico apresentado, a ser julgada pelo seu veterinário.

Vale lembrar que as visitas ao veterinário devem ser programadas a fim de minimizar o estresse no animal, lançando mão de componentes e manobras para tal, como caixa adequada para transporte com uso de feromônios felinos (Feliway), tranquilidade durante o transporte ao veterinário, entre outros (ver matéria “O Gato na Clínica:  Ida ao veterinário sem estresse” do Blog MedCat).

A investigação da saúde do seu companheiro depende da boa integração entre seu veterinário e você. O entendimento entre as partes promove confiança e tranquilidade para ambos, trazendo o benefício dos cuidados e monitoramento do bem-estar de seu gatinho. Desta maneira, procura-se obter maior qualidade de vida e longevidade para seu companheiro.

 

Prevenção, uma grande aliada

 

São muitas as razões pelas quais se deve levar um felino para as consultas de rotina ao médico veterinário:

  • Os gatos envelhecem de uma maneira distinta e mais rápida que os serem humanos. Já no primeiro ano de vida, seu gatinho corresponde a idade de um adolescente de 15 anos. Ao segundo ano de vida, ele já representa um jovem de 24 anos. A cada ano subsequente no nosso calendário anual, seu companheiro envelhece “4 anos felinos”, significando que um gatinho de 8 anos, corresponde a um adulto de 48 anos. Desta maneira, os check-ups anuais são muito importantes para detecção precoce de enfermidades e seus devidos cuidados.

 

  • Os nossos amigos gatos são experts em esconder e disfarçar sinais e sintomas de muitas doenças, não manifestando muitas vezes demonstração de dor ou fraqueza. Às vezes, quando eles manifestam os sinais, possivelmente a enfermidade pode já estar em curso avançado, dificultando assim os tratamentos e recuperação de seu gatinho. Os veterinários são treinados para averiguar de maneira adequada se seu felino apresenta alguma alteração.

 

  • A obesidade é assunto importante a ser abrangido, pois mais de 50% dos felinos atualmente estão acima do peso ideal. Manter seu gatinho de bem com a balança é tarefa a ser seguida por você e seu veterinário, quem irá orienta-lo a respeito de dietas e minimizar então riscos de doenças como diabetes, cardiopatias, doenças renais e outras.

 

  • A doença periodontal representa um grande percentual na prevalência de enfermidades e perda de qualidade de vida para os felinos.  Nem sempre eles demostram o avanço da doença, manifestando de maneira tardia os agravos desta enfermidade. O controle da cavidade oral deve ser realizado em exame de rotina.

 

Fonte de apoio:

International Cat Care

International Society of Feline Medicine (ISMF)

American Association of Feline Practitioners